segunda-feira, 20 de junho de 2011

Das Feridas que não se curam


"Quando partiu, mantinha as mãos no bolso e a cabeça erguida, as pernas corajosamente firmes, com os olhos obscuramente caídos na amargura. Não olhava para trás: porque olhar para trás, de certo modo, era uma maneira de ficar em um pedaço qualquer de lugar e deixar-se partir incompleto, sem senso de direção. Ela olhava-o andando pela estreita calçada, sob um ar de desespero, retendo-se para não gritar seu nome. E, só muito mais tarde, os dois encontravam-se perdidos.


Ele andava por aí, desviando dos estilhaços do próprio coração deixados pelo caminho, com os pensamentos ilegíveis nela, tendo sua vida estampada em uma música romântica na esperança, de quem sabe, reencontrá-la. Já ela, pôs-se a viver com descontentamento os dias vagos e longínquos, inventando motivos para não admitir a angústia que lhe queimava a garganta e lhe embrulhava o estômago. Era, sem dúvidas, inevitável que os sentimentos não tomassem conta de cada um deles sem fazê-los choramingar como crianças recém-nascidas.

Os dois, o mocinho e a mocinha, eram tremendamente apaixonados. Faziam do amor uma teoria sem fundamentos: pensavam que, amando um ao outro, obteriam a felicidade. Mas só amar não é o bastante: porque assim, o sentimento transforma-se em luxúria. E era difícil para eles, que outrora eram irmãos gêmeos idênticos amorosos, se esquecerem, sabendo que difícil e impossível separam-se por 1 milímetro de distância.

Permaneceram juntos por muito tempo. Mas quando o trânsito da rotina entra em declínio, o melhor é procurar uma saída rápida sem colisão. Foi o que fizeram. Mas ainda estando separados, ambos continuam compartilhando algo em comum: os ferimentos no peito que, mesmo cicatrizados, ardem como fogo na escuridão da noite."

Texto de:Adalbert Hammond
Retirado de: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=53360696

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